quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Arte de Perder



Aqui está um poema que nunca encontrei numa tradução minimamente aceitável. O original em inglês é muito belo. Chama-se «one art». Perder é uma (grande) arte.


Uma arte

A arte de perder não é difícil de dominar,

Tantas coisas parecem encerrar o destino de

serem perdidas que a sua perda não é um desastre


Perde alguma coisa a cada dia. Aceita o incómodo

de perder as chaves da porta, a hora estupidamente perdida.

A arte de perder não é difícil de dominar.


Depois pratica maiores perdas, mais frequentes perdas,

lugares, e nomes, e onde pensaste um dia

viajar. Nada disto trará desastre.


Perdi o relógio de minha mãe. E repara! A minha última

ou penúltima adorável casa se foi.

A arte de perder não é difícil de dominar.


Perdi duas cidades, maravilhosas. E mais ainda,

alguns reinos que possuía, dois rios, um continente.

Sinto falta deles, mas não é um desastre.


Mesmo perdendo-te a ti (a voz que ria, um gesto que

amei) não devo mentir. É evidente

que a arte de perder não é muito difícil de dominar.

Embora pareça (escreve!) pareça um desastre.


Elizabeth Bishop

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