sábado, 30 de janeiro de 2010
As falésias que nos protegem
A península de Peniche é toda ela uma fronteira. Tanto que acaba e tanto que começa. Para quem soube amar essa fronteira, as palavras de José Tolentino de Mendonça.
«Do céu tombavam flores amarelas
atiradas sem piedade pelos remoinhos do vento
ele sentava-se num terraço
ou numa falésia contra o mar
porque tudo aí é tão calmo
indulgnte, quase gentil»
O Passado Some-se
domingo, 17 de janeiro de 2010
O passado é onde nos separamos
Rosa Linda
Rosa Linda é uma personagem do passado, dum mundo e de uma terra que não existem mais e que por essas razões nos entristece a memória. Morava para os lados do Forte da Luz ou pelo menos era por esses lados que me lembro de a ver. Vestia de negro, cara morena, cabelos compridos, e vendia moinhos de papel de todas as cores, moinhos que ela própria construía. Ela chegava como as ventanias e os moinhos giravam naquele barulho abafado de papel de lustro unido num arame e pregado a uma caninha. Ela vinha com os moinhos aos molhos. Lembro-me que sorria, prova de que a alma não amarga com a fome e o sofrimento, antes se adoça e enternece.
Só agora, neste ano de 2010, tantos anos depois da sua morte, me lembro dela. E tenho pena de me lembrar dela só agora mas era pequeno demais para, se a encontrasse, lhe dizer obrigado. A lembrança dessa personagem, que em pleno século vinte carregava toda a antiguidade do nosso país, dessa terra ainda vila chamada Peniche, é uma forma de me lembrar de mim como criança. Uma traição, portanto. Não serve de nada, mas aqui fica o meu obrigado à Rosa Linda.
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